7 de novembro de 2011

A cada grito de gol, a certeza da superação


Primeiro esporte a ser desenvolvido especialmente para deficientes visuais, o goalball trouxe a alegria, a emoção e o prazer da conquista a um grupo especial

Texto: Paulo Monteiro (matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte: jornalfolhanorte.com.br). Fotos: Walkiria Vieira


Com o tato e a audição bem apurados - um para sentir as faixas no piso que identificam a posição de cada jogador em quadra e o outro para ouvir o sino no interior da bola, os atletas de goalball do Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos (Ilitc) vêm fazendo bonito nas competições em 2011. As maiores conquistas foram o tricampeonato dos Jogos Escolares Paranaense e o 1º lugar no Campeonato Sul-Brasileiro. Os resultados deixaram os vencedores ainda mais felizes, já que, para eles, só a oportunidade de conhecer a atividade esportiva foi como iniciar uma nova vida.


“Parece que nasci de novo. O goalball ocupou todo o espaço vazio na minha cabeça. Mas o mais importante é que ele nos permite jogar sem a ajuda de outra pessoa. Aqui, só dependemos do nosso próprio esforço”, conta o capitão do time, Newton Martins dos Santos, de 43 anos, que por causa de uma doença na retina, perdeu 90% da visão ainda quando era criança. Emocionado, se recorda das primeiras experiências no goalball e convida outras pessoas com deficiência visual a participarem dos treinos. “O difícil é só o começo: ficar dentro da quadra e ter a noção de espaço. Depois, fica tudo muito gostoso”, incentiva.


Aos 45 anos de idade, na ala direita da equipe, José Carlos dos Santos, que há 15 anos ficou cego após um glaucoma, além de atacar e defender a bola, desempenha outras atividades na equipe. “Sou formado em fisioterapia e o massagista oficial do time.” Praticando goalball há cinco meses, relata os benefícios que o esporte trouxe à sua vida. “Fora as viagens”, brinca, “o goalboll traz muita emoção e trabalha toda a parte física e motora do corpo.”


Mas não são apenas os homens que entram em quadra. Do time feminino, Maria Aparecida de Campos Leite, 41 anos, enfrenta duas horas e meia de ônibus, de Apucarana a Londrina, todas as segundas, quartas e sextas-feiras especialmente para treinar. Ela ficou cega há 16 anos, após um tumor cerebral. “Nunca mais fiz uma atividade tão divertida”, revela. “A alegria e a companhia dos colegas me motivam estar aqui.”

Esporte aguça tato e audição

Treinador do time desde sua formação, há quatro anos, Márcio Rafael da Silva explica os pormenores deste esporte pouco difundido na cidade. “Além da percepção tátil e auditiva, o goalball proporciona um bom desenvolvimento físico e mental ao praticante e lha dá noção espacial dentro de quadra.” Márcio, que também é formado em educação física, faz questão de afirmar que as conquistas no goalboll de Londrina só ocorreram graças ao apoio do Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos (Ilitc), da Fundação de Esportes de Londrina (FEL), da Associação Londrinense de Esportes (ALE) e do Canadá Country Club, onde são realizados os treinos.


Conheça e entenda o esporte


Segundo o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), o goalball foi criado em 1946 pelo austríaco Hanz Lorezen e o alemão Sepp Reindle, com o objetivo de reabilitar veteranos da Segunda Guerra Mundial que perderam a visão. Implementado no Brasil em 1985, o esporte é diferente de outras modalidades paraolímpicas porque foi exclusivamente desenvolvido para pessoas com deficiência visual.


A quadra para a prática do goalball tem as mesmas dimensões da de vôlei, com 9 metros de largura e 18 metros de comprimento. As partidas duram 20 minutos. Cada time tem três jogadores titulares e três reservas. De cada lado da quadra tem um gol com nove metros de largura e 1,2 de altura. Os atletas são arremessadores e defensores. Cada arremesso deve ser rasteiro, com o objetivo de balançar a rede adversária.


No goalboll, os atletas deficientes visuais das classes B1 (cego total, de nenhuma percepção luminosa em ambos os olhos), B2 (com a percepção de vultos) e B3 (conseguem definir imagens) competem juntos. Porém, se equivalem ao usar óculos especiais que impedem qualquer tipo de imagem.


Serviço: Os treinamentos do goalball ocorrem todas as segundas, quartas e sextas-feiras, das 9h30 às 11h30, no ginásio do Canadá Country Club, na Avenida Juscelino Kubitschek, 1854.

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