23 de novembro de 2011

Construção civil também é lugar de mulher


Silvana diz que não troca as ferramentas e o canteiro de obras pela vassoura e os afazeres domésticos


Texto: Paulo Monteiro (matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte: jornalfolhanorte.com.br). Fotos: Walkiria Vieira


Após perder o emprego de zeladora, ela abraçou a primeira oportunidade que apareceu e virou uma operária da construção civil. “Nunca tinha imaginado na minha vida trabalhar em uma obra. Hoje, apesar de lascar as unhas e ficar com as mãos ressecadas, amo o que faço e quero aposentar fazendo isso”, admite a auxiliar de eletricista Silvana Francisco da Silva, 34 anos, no 12° andar de mais um dos prédios levantados próximo à Avenida Madre Leônia Milito, Zona Sul. “Depois de cinco anos nesse meio, até perdi o medo de altura.”


Ela, que já atuou como auxiliar de serviços gerais, rejuntadora e azulejista nos prédios por onde passou, explica como é realizar as funções que eram dos homens. “É claro que não temos a força deles. Mesmo assim, tentamos fazer igual, mas com muito mais cuidado, dedicação e até com uma economia maior de materiais”, destaca ela, adiantando que não há nenhuma rivalidade no ambiente de trabalho. “Antes de entrar em uma construtora, eu nunca havia trabalhado diretamente com os homens. Graças a Deus, eles respeitam o nosso espaço e entendem que estamos aqui para somar e não para atrapalhar.”


De segunda a sexta-feira, com uma motocicleta que comprou trabalhando na construção civil, Silvana sai de sua casa no conjunto União da Vitória (Zona Sul) às sete da manhã e só retorna depois das 18h. Por isso, revela que deixou quase todos os afazeres domésticos para o marido. “A não ser quando tem a necessidade de fazer um reparo no piso ou na parte elétrica, por exemplo. Aí, eu mesmo pego as ferramentas e faço a manutenção.”


“No acabamento, são imbatíveis

Aparecido Siqueira, diretor de recursos humanos da A. Yoshii Engenharia e Yticon Construção, diz que há oito anos as empresas contam com as mulheres em seus empreendimentos. Atualmente, elas são mais de 100 nos canteiros de obras, desenvolvendo as funções de serviços gerais, rejuntadoras, azulejistas e eletricistas. Segundo ele, os homens e as mulheres trabalhando juntos resultam no que o cliente realmente espera: alta qualidade.


“Elas não têm a força de um homem, mas no acabamento são imbatíveis. Reparamos que as mulheres, por característica, são mais caprichosas e perfeccionistas”, afirma Siqueira.


Eles aprovam o serviço


Com 40 anos de experiência na área da construção civil, o instalador hidráulico Lelivaldo Oliveira Brito diz que as mulheres deixam o ambiente de trabalho mais calmo. “O serviço é praticamente igual, elas não fazem corpo mole e ainda deixam o clima mais tranquilo na obra.” Já o encarregado elétrico, João Luiz Fermino, destaca o esforço feminino. “Elas já conquistaram muito o espaço que era dos homens e ainda vão conseguir muito mais. Além disso, são cuidadosas, zelosas e dedicadas, até mesmo nos momentos mais difíceis.”

13 de novembro de 2011

Todo dia é de finados para Rosimeire


MMãe que perdeu o filho em acidente de carro, em março de 2011, nunca ficou um dia sem ir ao túmulo do rapaz


Texto: Paulo Monteiro (matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte: jornalfolhanorte.com.br). Fotos: Walkiria Vieira


“Por que eu, mãe!? Porque Deus só leva os bons filhos”, estampa a lápide de Rafael Vieira Matias, que faleceu no dia 6 de março de 2011, aos 25 anos, após um acidente de carro, em Mauá da Serra. A frase, de certa forma, conforta a mãe Rosimeire Vieira de Lima, que jamais passou um dia longe do túmulo, que abriga também seu sobrinho, Alan Deimon Vieira de Lima, morto cinco meses depois, em 24 de junho, aos 18 anos, também vítima de acidente de trânsito, que aumenta a estatística de milhares de jovens enterrados no cemitério Jardim da Saudade, Zona Norte.


O jazigo é um dos mais admirados no cemitério, já que leva o escudo do time de coração de Rafael: o Corinthians. “Ele é o meu filho mais velho e sempre foi um corintiano roxo. Por isso resolvemos fazer essa homenagem”, explica dona Rosimeire, se protegendo da chuva, na manhã de terça-feira (25), sob a cobertura que foi colocada sobre o túmulo.


“Eu nunca os deixo sozinhos. Todos os dias saio do Jardim Leonor, na Zona Oeste, para vir visitar, fazer alguma limpeza e o que mais precisar aqui”, revela a mãe, debruçada sobre o jazigo do filho e do sobrinho, como se os dois estivessem realmente ali. “Para mim, desde que ele morreu, todos os dias são finados.”


Quantidade de túmulos de jovens impressiona


Quem visita o cemitério Jardim da Saudade constata que grande parte dos túmulos é ocupada por jovens que morreram antes dos 30 anos de idade. A sepultadora da Acesf (Administração dos Cemitérios e Serviços Funerários de Londrina), Neide do Carmo Barbosa, há oito meses trabalhando no local, relata fazer em média cinco enterros por dia. “Infelizmente, alguns deles são de garotos que não passam dos 25 anos e a maioria vítima de morte violenta. “Fico muito triste e chocada com isso, mas não posso deixar a emoção transparecer”, diz ela que, em nome da profissão, faz o possível para conter seus sentimentos.


Segundo o coordenador do cemitério, Ideiede Pereira, apesar da grande quantidade de jovens enterrados no Jardim da Saudade, não se pode afirmar que são a maioria. “É bastante diversificado. Aqui também são enterradas pessoas de todas as idades,não temos um relatório que demonstre um número oficial sobre a quantidade de jovens.”

7 de novembro de 2011

A cada grito de gol, a certeza da superação


Primeiro esporte a ser desenvolvido especialmente para deficientes visuais, o goalball trouxe a alegria, a emoção e o prazer da conquista a um grupo especial

Texto: Paulo Monteiro (matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte: jornalfolhanorte.com.br). Fotos: Walkiria Vieira


Com o tato e a audição bem apurados - um para sentir as faixas no piso que identificam a posição de cada jogador em quadra e o outro para ouvir o sino no interior da bola, os atletas de goalball do Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos (Ilitc) vêm fazendo bonito nas competições em 2011. As maiores conquistas foram o tricampeonato dos Jogos Escolares Paranaense e o 1º lugar no Campeonato Sul-Brasileiro. Os resultados deixaram os vencedores ainda mais felizes, já que, para eles, só a oportunidade de conhecer a atividade esportiva foi como iniciar uma nova vida.


“Parece que nasci de novo. O goalball ocupou todo o espaço vazio na minha cabeça. Mas o mais importante é que ele nos permite jogar sem a ajuda de outra pessoa. Aqui, só dependemos do nosso próprio esforço”, conta o capitão do time, Newton Martins dos Santos, de 43 anos, que por causa de uma doença na retina, perdeu 90% da visão ainda quando era criança. Emocionado, se recorda das primeiras experiências no goalball e convida outras pessoas com deficiência visual a participarem dos treinos. “O difícil é só o começo: ficar dentro da quadra e ter a noção de espaço. Depois, fica tudo muito gostoso”, incentiva.


Aos 45 anos de idade, na ala direita da equipe, José Carlos dos Santos, que há 15 anos ficou cego após um glaucoma, além de atacar e defender a bola, desempenha outras atividades na equipe. “Sou formado em fisioterapia e o massagista oficial do time.” Praticando goalball há cinco meses, relata os benefícios que o esporte trouxe à sua vida. “Fora as viagens”, brinca, “o goalboll traz muita emoção e trabalha toda a parte física e motora do corpo.”


Mas não são apenas os homens que entram em quadra. Do time feminino, Maria Aparecida de Campos Leite, 41 anos, enfrenta duas horas e meia de ônibus, de Apucarana a Londrina, todas as segundas, quartas e sextas-feiras especialmente para treinar. Ela ficou cega há 16 anos, após um tumor cerebral. “Nunca mais fiz uma atividade tão divertida”, revela. “A alegria e a companhia dos colegas me motivam estar aqui.”

Esporte aguça tato e audição

Treinador do time desde sua formação, há quatro anos, Márcio Rafael da Silva explica os pormenores deste esporte pouco difundido na cidade. “Além da percepção tátil e auditiva, o goalball proporciona um bom desenvolvimento físico e mental ao praticante e lha dá noção espacial dentro de quadra.” Márcio, que também é formado em educação física, faz questão de afirmar que as conquistas no goalboll de Londrina só ocorreram graças ao apoio do Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos (Ilitc), da Fundação de Esportes de Londrina (FEL), da Associação Londrinense de Esportes (ALE) e do Canadá Country Club, onde são realizados os treinos.


Conheça e entenda o esporte


Segundo o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), o goalball foi criado em 1946 pelo austríaco Hanz Lorezen e o alemão Sepp Reindle, com o objetivo de reabilitar veteranos da Segunda Guerra Mundial que perderam a visão. Implementado no Brasil em 1985, o esporte é diferente de outras modalidades paraolímpicas porque foi exclusivamente desenvolvido para pessoas com deficiência visual.


A quadra para a prática do goalball tem as mesmas dimensões da de vôlei, com 9 metros de largura e 18 metros de comprimento. As partidas duram 20 minutos. Cada time tem três jogadores titulares e três reservas. De cada lado da quadra tem um gol com nove metros de largura e 1,2 de altura. Os atletas são arremessadores e defensores. Cada arremesso deve ser rasteiro, com o objetivo de balançar a rede adversária.


No goalboll, os atletas deficientes visuais das classes B1 (cego total, de nenhuma percepção luminosa em ambos os olhos), B2 (com a percepção de vultos) e B3 (conseguem definir imagens) competem juntos. Porém, se equivalem ao usar óculos especiais que impedem qualquer tipo de imagem.


Serviço: Os treinamentos do goalball ocorrem todas as segundas, quartas e sextas-feiras, das 9h30 às 11h30, no ginásio do Canadá Country Club, na Avenida Juscelino Kubitschek, 1854.

 

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