• Meio Ambiente
  • Acessibilidade
  • Progresso

18 de dezembro de 2011

Detentos se expressam em desenhos







As lembranças da família, da cidade e do Natal estiveram presentes nos trabalhos expostos na unidade 2 da Penitenciária Estadual de Londrina








Texto: Paulo Monteiro (matéria publicada originalmente pelo jornal FolhaNorte: jornalfolhanorte.com.br)

Os detentos participaram de um concurso de desenho desenvolvido pelo Projeto Verde e Amarelo e demonstraram que apesar dos muros altos e das inúmeras grades da Penitenciária Estadual de Londrina (PEL II) a imaginação não tem limite quando o assunto é o Natal e o aniversário de 77 anos da cidade, comemorados neste sábado (10). Dos 120 participantes, 12 foram premiados com certificados e uma visita especial dos familiares na tarde de quinta-feira (8), que segundo eles, é o maior estímulo para superar a tristeza e a solidão dentro das celas.

“Que a alegria, a saúde e a felicidade estejam presentes em seu lar neste Natal e em todo o novo ano”, escreveu em seu desenho Fabiano César Martins Carvalho, 30 anos, buscando assim mostrar aos familiares toda a saudade que sente. “Tentei transferir através da arte o que às vezes me falta nas palavras”, admite ele, que cumpre pena de 28 anos, por assalto, dos qual já pagou nove. “Sou artista, já pintava quadros e sempre tive o dom de desenhar. Por isso ajudei também na produção dos trabalhos dos meus companheiros”, explica Fabiano, acrescentando que o Natal o faz refletir sobre a responsabilidade de não errar novamente.

Anderson José Alves, 28 anos, também entre os premiados, dedicou seu desenho ao aniversário de Londrina. “Sou de Apucarana, mas sempre admirei essa cidade. É muito linda”, destaca o apucaranense, que foi condenado a 19 anos de prisão por roubo e receptação. “Já cumpri um ano e dois meses.” Anderson estava muito alegre com o dia especial que ele e outros detentos tiveram. “Receber o certificado é um reconhecimento a nossa arte, porém o mais importante é a visita da minha mulher”, afirma ele, apertando forte a mão da esposa.

A vida em versos



Na mesma tarde, foram premiados com certificados os participantes da 8ª Ciranda de Poesias de Londrina, concurso dividido em cinco categorias, que contou com a colaboração de vários detentos da PEL II. A ação teve como objetivo contribuir para a reeducação e reinserção social dos sentenciados, entre eles Edson Santos Rodrigues, que escreveu a poesia “O Grande Amor”, dedicada aos dois filhos e a esposa. “Coloquei todo o meu sentimento nela. No papel fica mais fácil passar o que sinto, já que ficamos tão pouco com a família nos dias de visita”, comentou Edson, que já cumpriu quatro dos 22 anos da sua pena por homicídio.

Projeto atende aos pedidos dos presos



A primeira etapa do Projeto Verde e Amarelo ocorreu em agosto, quando foi realizado um concurso de redação com o tema da semana da pátria. Doze detentos da PEL II foram classificados e receberam, além do certificado de participação, uma visita especial de duas horas durante a semana. “A ideia do prêmio é atender uma reivindicação dos próprios presos que pedem um tempo maior para a visita, que ocorre no final de semana. Com estas ações, está sendo possível atender aos poucos o pedido”, conta Aparecida Alves Silva, coordenadora de cursos e projetos da Penitenciária. A segunda fase do projeto foi o concurso de poesia e a terceira, o concurso de desenho.



“O foco do projeto é resgatar e dar prioridade aos direitos e deveres dos seres humanos. Os detentos querem mudar sua realidade e nós queremos ajudá-los, por isso procuramos atendê-los e também cobrá-los quando necessário”, explica a coordenadora. O vice-diretor da PEL II, Adilson Barbosa, salientou a importância da reflexão dos presos nessa época do ano. “Projetos como esse servem para o detento mostrar o que pensa do Natal. Além de resgatar o valor familiar, buscamos discutir assuntos voltados à cidadania e ao respeito social.”

6 de dezembro de 2011

Com muita fé e disposição, seo Augusto limpa a praça do Santiago

Na primeira vez que foi passear com o neto no bairro, não gostou da sujeira que viu: pegou a vassoura, pá, sacos de lixo e deu seu jeito


Texto: Paulo Monteiro (matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte:jornalfolhanorte.com.br). Fotos: Walkiria Vieira


Cacos de vidro, latinhas de cerveja e embalagens plásticas já não fazem mais parte da paisagem da pracinha e das ruas que a cercam no Jardim Santiago, Zona Oeste, graças ao trabalho do aposentado Augusto Pereira Leite, 74 anos, que encontrou na limpeza do local uma forma de equilibrar seu próprio estado físico e mental. “Durante o dia estou com a vassoura e a pazinha pra lá e pra cá”, diz. “Encontrei neste trabalho uma terapia, além do exemplo que busco dar aos adultos e as crianças. À noite, faço a limpeza da minha alma lendo a Bíblia”, explica ele, que passou a desempenhar a atividade após visitar a área de lazer com o neto e constatar que havia muita sujeira pelo chão.


“Não suportei aquela situação e comecei pegando apenas o lixo da calçada. Em seguida, fui para o gramado e hoje em dia limpo até a frente das casas.” A lição ganhou o reconhecimento da vizinhança, que o ajuda a comprar o material usado para recolher o lixo e a manter a praça limpa. “Enquanto a maioria só destrói, ele está zelando pelo nosso espaço. É um modelo para todos nós seguirmos”, opina a dona de casa Aparecida Fátima Luiz, 58 anos, lembrando como era a praça antes da iniciativa do aposentado. “As folhas, os galhos e outros tipos de lixo atrapalhavam o povo a caminhar e a brincar aqui.” Pedro Alvino da Silva, 57 anos, reforça: “Ele tem muita disposição, chega por volta das 8h e só vai embora perto das 18h.”


Augusto Pereira Leite, que é graduado e mestrado na área de pedagogia e teologia, deu aulas por 50 anos e considera a limpeza da praça como um novo trabalho, com horário para começar e terminar. Ele diz que o ‘combustível’ que usa para encher de três a quatro grandes sacos de lixo por dia não está estampado nas moedas e nem nas cédulas, mas sim num livro em específico: “A bíblia. Não preciso de dinheiro, tenho uma aposentadoria que me proporciona viver tranquilamente”, afirma ele, considerando-se um privilegiado. “No entanto, a limpeza é um prazer para mim, assim como o trabalho voluntário, que sempre fez parte da minha vida e hoje me tira da ociosidade e de outros problemas de saúde comuns na terceira idade. Deus me deu este privilégio.”


Seo Augusto morou na cidade de Ibaiti por mais de meio século e, há um ano, junto com a esposa, se mudou para Londrina com intuito de auxiliar a filha na criação do netinho de seis anos de idade. Entretanto, paralelamente, coordena um curso de extensão na área da teologia em Ibaiti, faz pesquisas para o seu livro autobiográfico e, ainda para este ano, pretende pintar todo o meio-fio que cerca a praça do Jardim Santiago.

23 de novembro de 2011

Construção civil também é lugar de mulher


Silvana diz que não troca as ferramentas e o canteiro de obras pela vassoura e os afazeres domésticos


Texto: Paulo Monteiro (matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte: jornalfolhanorte.com.br). Fotos: Walkiria Vieira


Após perder o emprego de zeladora, ela abraçou a primeira oportunidade que apareceu e virou uma operária da construção civil. “Nunca tinha imaginado na minha vida trabalhar em uma obra. Hoje, apesar de lascar as unhas e ficar com as mãos ressecadas, amo o que faço e quero aposentar fazendo isso”, admite a auxiliar de eletricista Silvana Francisco da Silva, 34 anos, no 12° andar de mais um dos prédios levantados próximo à Avenida Madre Leônia Milito, Zona Sul. “Depois de cinco anos nesse meio, até perdi o medo de altura.”


Ela, que já atuou como auxiliar de serviços gerais, rejuntadora e azulejista nos prédios por onde passou, explica como é realizar as funções que eram dos homens. “É claro que não temos a força deles. Mesmo assim, tentamos fazer igual, mas com muito mais cuidado, dedicação e até com uma economia maior de materiais”, destaca ela, adiantando que não há nenhuma rivalidade no ambiente de trabalho. “Antes de entrar em uma construtora, eu nunca havia trabalhado diretamente com os homens. Graças a Deus, eles respeitam o nosso espaço e entendem que estamos aqui para somar e não para atrapalhar.”


De segunda a sexta-feira, com uma motocicleta que comprou trabalhando na construção civil, Silvana sai de sua casa no conjunto União da Vitória (Zona Sul) às sete da manhã e só retorna depois das 18h. Por isso, revela que deixou quase todos os afazeres domésticos para o marido. “A não ser quando tem a necessidade de fazer um reparo no piso ou na parte elétrica, por exemplo. Aí, eu mesmo pego as ferramentas e faço a manutenção.”


“No acabamento, são imbatíveis

Aparecido Siqueira, diretor de recursos humanos da A. Yoshii Engenharia e Yticon Construção, diz que há oito anos as empresas contam com as mulheres em seus empreendimentos. Atualmente, elas são mais de 100 nos canteiros de obras, desenvolvendo as funções de serviços gerais, rejuntadoras, azulejistas e eletricistas. Segundo ele, os homens e as mulheres trabalhando juntos resultam no que o cliente realmente espera: alta qualidade.


“Elas não têm a força de um homem, mas no acabamento são imbatíveis. Reparamos que as mulheres, por característica, são mais caprichosas e perfeccionistas”, afirma Siqueira.


Eles aprovam o serviço


Com 40 anos de experiência na área da construção civil, o instalador hidráulico Lelivaldo Oliveira Brito diz que as mulheres deixam o ambiente de trabalho mais calmo. “O serviço é praticamente igual, elas não fazem corpo mole e ainda deixam o clima mais tranquilo na obra.” Já o encarregado elétrico, João Luiz Fermino, destaca o esforço feminino. “Elas já conquistaram muito o espaço que era dos homens e ainda vão conseguir muito mais. Além disso, são cuidadosas, zelosas e dedicadas, até mesmo nos momentos mais difíceis.”

 

©2009 comuniferia | by TNB