6 de dezembro de 2011

Com muita fé e disposição, seo Augusto limpa a praça do Santiago

Na primeira vez que foi passear com o neto no bairro, não gostou da sujeira que viu: pegou a vassoura, pá, sacos de lixo e deu seu jeito


Texto: Paulo Monteiro (matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte:jornalfolhanorte.com.br). Fotos: Walkiria Vieira


Cacos de vidro, latinhas de cerveja e embalagens plásticas já não fazem mais parte da paisagem da pracinha e das ruas que a cercam no Jardim Santiago, Zona Oeste, graças ao trabalho do aposentado Augusto Pereira Leite, 74 anos, que encontrou na limpeza do local uma forma de equilibrar seu próprio estado físico e mental. “Durante o dia estou com a vassoura e a pazinha pra lá e pra cá”, diz. “Encontrei neste trabalho uma terapia, além do exemplo que busco dar aos adultos e as crianças. À noite, faço a limpeza da minha alma lendo a Bíblia”, explica ele, que passou a desempenhar a atividade após visitar a área de lazer com o neto e constatar que havia muita sujeira pelo chão.


“Não suportei aquela situação e comecei pegando apenas o lixo da calçada. Em seguida, fui para o gramado e hoje em dia limpo até a frente das casas.” A lição ganhou o reconhecimento da vizinhança, que o ajuda a comprar o material usado para recolher o lixo e a manter a praça limpa. “Enquanto a maioria só destrói, ele está zelando pelo nosso espaço. É um modelo para todos nós seguirmos”, opina a dona de casa Aparecida Fátima Luiz, 58 anos, lembrando como era a praça antes da iniciativa do aposentado. “As folhas, os galhos e outros tipos de lixo atrapalhavam o povo a caminhar e a brincar aqui.” Pedro Alvino da Silva, 57 anos, reforça: “Ele tem muita disposição, chega por volta das 8h e só vai embora perto das 18h.”


Augusto Pereira Leite, que é graduado e mestrado na área de pedagogia e teologia, deu aulas por 50 anos e considera a limpeza da praça como um novo trabalho, com horário para começar e terminar. Ele diz que o ‘combustível’ que usa para encher de três a quatro grandes sacos de lixo por dia não está estampado nas moedas e nem nas cédulas, mas sim num livro em específico: “A bíblia. Não preciso de dinheiro, tenho uma aposentadoria que me proporciona viver tranquilamente”, afirma ele, considerando-se um privilegiado. “No entanto, a limpeza é um prazer para mim, assim como o trabalho voluntário, que sempre fez parte da minha vida e hoje me tira da ociosidade e de outros problemas de saúde comuns na terceira idade. Deus me deu este privilégio.”


Seo Augusto morou na cidade de Ibaiti por mais de meio século e, há um ano, junto com a esposa, se mudou para Londrina com intuito de auxiliar a filha na criação do netinho de seis anos de idade. Entretanto, paralelamente, coordena um curso de extensão na área da teologia em Ibaiti, faz pesquisas para o seu livro autobiográfico e, ainda para este ano, pretende pintar todo o meio-fio que cerca a praça do Jardim Santiago.

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