2 de outubro de 2011

Beisebol ensina nova filosofia a jovens carentes


Esporte tem ajudado no desenvolvimento social e escolar dos atletas com idades entre nove e 16 anos


Texto: Paulo Monteiro (matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte: jornalfolhanorte.com.br). Fotos: Walkiria Vieira


Em pleno país do futebol, milhares de crianças carentes de Londrina aprendem as regras do beisebol, e com elas, conceitos como disciplina e respeito. O projeto Beisebol nas Escolas Municipais, criado pela Associação Cultural e Esportiva de Londrina (Acel), em 1997, já proporcionou a alguns atletas, inclusive, a oportunidade de jogar em times profissionais de outros países.


Em parceria com o Instituto de Educação, Cultura e Esporte (Iece) e apoio da Fundação de Esportes de Londrina (FEL), o projeto tem por objetivo ocupar o tempo ocioso das crianças e adolescentes, tirando-os das ruas e afastando-os do universo das drogas. As aulas são comandadas pelo professor e treinador Pedro Bando.


“Desde 1997, atendemos uma média de 2.200 pessoas, entre crianças e adolescentes, dos mais variados bairros de Londrina: Jardim Interlagos, Jardim Ouro Branco, Vila San Izidro, Jardim Santa Fé, Conjunto Novo Amparo, Conjunto Vivi Xavier, entre outros. Acho que a única região que ainda não tivemos alunos foi do centro”, diz o professor Pedro Bando, defendendo as características do esporte. “É importante que conheçam as regras, os métodos, os limites e a disciplina que o beisebol exige. Tudo isso serve como apoio nas relações de respeito aos mais velhos, aos professores e aos pais.” Bando acrescenta que a intenção é também popularizar o esporte no município. “Imagina se cada jovem destes divulgasse ou falasse um pouco do esporte aos seus familiares e amigos?”


Um dos destaques do projeto é Clóvis Antônio Cantuaro Brandão, 11 anos. Morador no Patrimônio Limoeiro, ele atua na posição de rebatedor, e conta o que o beisebol modificou em sua vida. “Sem dúvida, a disciplina. Antes eu ia à escola para bagunçar, brigar e tirava notas baixas. Depois dos conselhos do professor Pedro, minha história mudou.” O receptor da equipe, ou “catcher”, como gosta de identificar a sua posição em campo, Rômulo Guilherme Belmiro Luz, 10 anos, treina quatro vezes por semana e, logo de cara, assegura o que mais gosta de fazer no projeto: “jogar e viajar.” Rômulo, que mora no Jardim Tropical (Zona Norte) relembra que recebeu o convite para praticar beisebol na Escola José Gasparini, onde estuda. “Há dois anos, o professor foi até lá e perguntou quem gostaria de fazer parte do projeto, e quem aceitasse, deveria treinar, inclusive, nos finais de semana. Era tudo que eu queria.”


Mas não são apenas os garotos que rebatem, lançam e buscam a bolinha pesada. Maria Luiza Campos Alcântara, 17 anos, do Vale do Cambezinho (Zona Oeste), em dois anos foi promovida de jogadora para auxiliar técnica. “Comecei a assistir os treinamentos e pedi ao professor para participar. Foi aí que ele teve a ideia para eu encontrar 10 garotas e formarmos um time feminino. Até encontrei, mas logo elas desistiram e acabei me tornando ajudante do treinador Pedro.”


Quem quiser conhecer um pouco mais sobre o esporte, terá a oportunidade nos próximos dias 29, 30 e 31, quando Londrina sediará a Taça Brasil Interclubes de Beisebol Infantil. O evento terá 24 equipes do Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Pará, entre outros estados ainda não confirmados e será aberto à comunidade.


Atletas daqui já foram para os EUA e o Japão


Atletas que começaram nos campos da Acel tiveram a oportunidade de mostrar suas habilidades nos países de ponta do beisebol. “Na turma de 2001 do projeto tivemos um garoto chamado Tiago Calisto, que treinava com a gente e, em 2004, foi convidado a jogar pela academia da Confederação Brasileira de Beisebol. Após se destacar em campeonatos brasileiros durante três anos, fechou um contrato com o time norte americano Red Sox”, se orgulha Pedro Bando. Outro atleta que se destacou foi Welison Viana, que ganhou uma bolsa de estudos numa faculdade japonesa. “Até hoje ele está atuando em uma equipe no Japão e se desenvolvendo profissionalmente”, destaca o treinador.


Infelizmente, o beisebol é uma modalidade cara no Brasil, porque o esporte é pouco praticado no país e não causa interesse nas marcas de materiais esportivos e, consequentemente, fica sem apoio. Por motivos como este, os equipamentos usados nos treinamentos são de origem japonesa, americana e de outras nacionalidades. “Assim contamos com a ajuda de ex-praticantes que nos doam alguns acessórios. Para se ter uma ideia, uma luva como esta, usada para agarrar as bolas rebatidas, custa, em média, R$ 400. Já o taco mais barato que usamos para rebater os arremessos custa R$ 200. Até mesmo uma bolinha não sai por menos de R$ 16”, relata.


Mãe elogia mudança de comportamento do filho


Kátia Imanichi está sempre acompanhando os treinamentos do projeto Beisebol nas Escolas Municipais. E não é para menos, já que seu filho Guilherme, de oito anos, faz parte da equipe. A mãe diz que ele integrava um time de beisebol em outra categoria da Acel, mas observadora do método aplicado por Pedro Bando, fez questão de matriculá-lo junto aos outros jovens. “Queria muito que o mestre treinasse o Guilherme porque acho importante os fundamentos ensinados nas aulas. Gosto muito da forma paciente que ele insere o respeito, a disciplina e a educação nas crianças.”


Ela apresenta ainda algumas mudanças no comportamento de seu filho. “O Guilherme passou a ser mais solidário, a se esforçar mais por uma conquista, está mais disposto fisicamente e tem valorizado mais o que temos lhe dado”, revela Kátia, acrescentando detalhes. “Quando o time viaja, por exemplo, uma das regras é que organizem e arrumem as suas malas sem a ajuda dos pais. Assim, eles se tornam pessoas mais independentes.”

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