19 de setembro de 2011

Periferia conhece o tênis


Projeto social rebate os obstáculos e preenche o tempo ocioso da criançada na Zona Norte


Texto: Paulo Monteiro (matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte: jornalfolhanorte.com.br). Fotos: Walkiria Vieira.


O Projeto Jogue Tênis, realizado na Rua Spartaco Ferraresi, próximo à Avenida Saul Elkind, há cerca de dois meses vem ganhando apoio da comunidade. Cerca de 20 crianças da Zona Norte estão tendo a oportunidade de aprender tênis, um esporte geralmente praticado pela elite. As aulas, na quadra improvisada, são dadas pelo bancário Alexandre Gonçalves, 34 anos, realizando um sonho que o acompanha desde a infância. “Por falta de dinheiro, não pude jogar tênis. Sei que tem muita gente como este desejo e quero dar chance a essas pessoas.”


Antes das aulas, as crianças e o treinador fazem algumas adaptações para que a bolinha de camurça possa ir de lá pra cá. Tudo começa pela rede: uma faixa zebrada amarrada em dois cones. Todos participam da conservação do espaço e dos materiais esportivos. “Arrancamos os matos que invadem a quadra e, após os treinamentos, recolhemos as bolinhas em volta.” E para que os participantes do projeto não tenham tanto trabalho, e que os resultados apareçam rapidamente, Alexandre corre atrás de mais estrutura. “Agora precisamos de um alambrado. A tinta para o piso eu ganhei da síndica do meu prédio. Além disso, estamos organizando junto a Fundação de Esportes de Londrina (FEL) a construção de uma quadra de saibro. Enquanto não chegamos a esta realidade, ensinamos aos alunos apenas as rebatidas, defesas e controle de bola.”

Outra doação importante foi a de um cano de PVC, feita por um depósito de material de construção, que é usado para catar as bolinhas. “Independente de tudo isso e da classe social, todos têm a oportunidade de ser campeões. Raramente a periferia tem incentivos para se desenvolver, e quando tem, mostra bons resultados. Logo, logo estarão disputando campeonatos.”


Alexandre e seus alunos contam ainda com a participação de alguns profissionais do esporte, como Gustavo Beiro Hoewell, 23 anos, que está sempre por perto passando a sua experiência. “Pratico tênis há 15 anos. Joguei e disputei vários campeonatos, mas hoje me dedico a ensinar. Pelo menos uma vez por semana estou por aqui.” Atento, já vê futuros destaques no esporte. “Essa molecada tem facilidade e aprende rapidamente. Com certeza vai sair um talento daqui.”


Além de professores voluntários, o projeto tem tido o apoio de instituições públicas e privadas. Segundo Alexandre, a Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB) forneceu alguns uniformes, a loja Tênis Shop, doou 300 bolinhas e 10 raquetes, e a Fundação de Esportes de Londrina (FEL), cedeu o espaço e alguns estagiários. O professor destaca a importância destes parceiros, mostrando os preços de alguns equipamentos que dificultariam a realização do projeto. “O esporte é muito caro. Uma aula de 60 minutos não sai por menos de R$ 100. Uma bolinha, R$ 5.; a raquete, R$ 350. Enfim, entre treinos, roupas e acessórios, são R$ 850 só para iniciar”, exemplifica.


Sonho do bancário é a realização das crianças


Mesmo com o desejo de praticar tênis desde a infância, Alexandre Gonçalves só teve a oportunidade, aos 27 anos, quando pôde comprar os equipamentos necessários. “Antes eu fiz atletismo e handebol. Isso porque meu pai sempre me aconselhava a fazer um esporte que fosse oferecido gratuitamente na escola, pois não podia pagar para jogar tênis”, relembra, explicando como teve a idéia do projeto social. “Surgiu em 2010. Sempre participei de programas solidários e, por morar aqui perto, passava diariamente e via o lugar abandonado.”


Há dois meses tem mudado a paisagem do local e deixado as crianças da região Norte mais contentes. Eduardo Afonso Carreli Dias, 11 anos, mora no Heimtal e faz as aulas de tênis. “Uma menina da minha escola falou e eu vim. Estudo à tarde e não tinha nada pra fazer em casa de manhã. Estou gostando, aqui eu me divirto, faço um esporte e conheço outras pessoas”, comentou. Natália Antero dos Santos, sete anos, compartilha das mesmas palavras e acrescenta que só não aparece quando o tempo está ruim. “Moro pertinho e só não venho quando está chovendo.”


A dona de casa Maria Lúcia dos Santos, 54 anos, acompanha o desempenho da filha. “Ela participa há um mês e adora. É importante porque tira as crianças de frente do computador e da televisão e assim elas fazem exercício físico. Sorte dela, pois quando ficar da minha idade não terá os problemas de saúde que tenho.”


Serviço: O Projeto Jogue Tênis ocorre nas terças e quintas-feiras. De manhã, das 9h às 11h, e à tarde, das 15h às 17h. O contato com o professor Alexandre Gonçalves pode ser feito pelo celular 8815-6126.

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