4 de setembro de 2011

O dom de transformar o “lixo” em arte

Há quase 10 anos, os brinquedos e esculturas produzidas a partir de materiais recicláveis ajudam artesão do Jardim Noroeste a realizar os seus sonhos


Texto: Paulo Monteiro (matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte: jornalfolhanorte.com.br). Foto: Walkiria Vieira.


Ao invés de serem descartadas em qualquer saco de lixo, nas ruas, ou até mesmo na natureza, mais de 300 mil garrafas descartáveis de refrigerante ganharam novas formas nas mãos de Valdivino Brandão, 42 anos. Sua arte, que foi desacreditada no início por muitas pessoas, já o ajudou a realizar antigos sonhos, entre eles, construir e quitar a casa própria, onde mora com a mulher e os três filhos. Além disso, depois de receber o patrocínio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic), há três anos, o artesão não precisa mais vender seus produtos nas ruas, e atualmente faz visitas em escolas públicas, praças e associações comunitárias, ensinando como reaproveitar materiais recicláveis e a proteger o meio ambiente.


Antes de conseguir vender uma média de 15 mil carrinhos por mês, chamados de Pet Cars, a R$ 5 cada, o sucesso da arte de Valdivino era tido como “ilusão”, inclusive por pessoas da sua própria família. “Foi muito difícil. Eu, que já tinha tentado a sorte com vários tipos de artesanato, tive a desconfiança de todos quando comecei com as garrafas pet. Até minha esposa, que apesar de ajudar na produção, aconselhou a tentar outra profissão que me desse um registro na carteira.”


Então, para cobrir as despesas familiares, o artesão trabalhava de garçom. “Foi aí, há uns oito anos, que conheci um senhor chamado Sérgio. Ele me ensinou o segredo da rapidez e da perfeição na hora de fazer os objetos. Depois disso, não gastei mais do que 15 minutos para produzir um pet car”, relembra o artesão, com emoção ao falar do amigo. “Uns falaram até que o Sérgio já morreu.”


Graças à perseverança, Valdivino superou as dificuldades e conseguiu construir uma casa com o dinheiro do trabalho, no Jardim Noroeste. “Sempre tive Deus diante dos meus objetivos. Hoje, vivo confortavelmente com a minha família e pretendo, inclusive, comprar um carro”, destaca o artesão, que conta com a companhia dos filhos na hora de transformar as garrafas em arte. “A minha filha Vitória, de três anos, é quem faz o test drive, se o brinquedo resistir a ela, está pronto para ser vendido”, brinca ele. Além do plástico, Valdivino também utiliza papel para fazer kirigami (arte japonesa desenvolvida com recortes de papel) e origami (arte também japonesa produzida com dobraduras de papel). “Meu próximo lançamento será um carrinho com controle remoto. Dessa vez, vou misturar reciclagem com tecnologia”, adianta.


Tarsila do Amaral como inspiração


Valdivino Brandão só estudou até a 4ª série do ensino fundamental. “Estou sempre pesquisando nos livros e na internet novas formas e modelos. Ao todo, chego a dedicar uma média de 10 horas diárias ao meu trabalho.” Há cinco anos, o artesão teve a oportunidade de conhecer a obra de Tarsila do Amaral (pintora, desenhista brasileira e uma das principais figuras do movimento modernista do Brasil). “Eu estava procurando materiais em alguns lixos, quando encontrei três quadros dela. Admirado, passei então a usar seus desenhos como inspiração, e até pude apresentar o resultado numa exposição, em 2008”, exibe o artesão a figura “Abaporu”, de Tarsila do Amaral.

Além de exposições, ele está sempre oferecendo seus ensinamentos às crianças de várias escolas públicas de Londrina, praças e associações de bairros, e promove palestras sobre a importância de proteger a natureza e o reaproveitamento de alguns tipos de lixo. Valdivino ainda aceita encomendas de brinquedos confeccionados a partir de materiais recicláveis. Quem tiver interesse em conhecer de perto o trabalho, basta ligar no seu telefone 8411 6199.



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