8 de agosto de 2011

Pipa + cerol: uma brincadeira que pode acabar mal

As maiores vítimas, os motociclistas, ficam apreensivos com os riscos das linhas cortantes. A proteção mais eficiente é a “antena corta pipa”, que custa entre R$ 14 e R$ 70


Texto: Paulo Monteiro (matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte: jornalfolhanorte.com.br). Fotos: Walkiria Vieira


Em praticamente todas as regiões de Londrina, a pipa, principalmente nesta época do ano, é uma das brincadeiras preferidas da garotada. Mas ao invés de colorirem o céu, podem acabar manchadas de sangue por causa do uso de cerol (uma mistura composta por caco de vidro, água e cola), que é usado na linha com o intuito de derrubar a pipa do outro em disputas, ameaçando pedestres, motociclistas e até quem está brincando.


O entregador de gás, Lucas Aguiar Pereira, 19 anos, se deparou com uma linha com cerol e, por sorte, teve apenas um corte no dedo ao se defender. “Quase acertou meu pescoço. Só não foi pior porque o cerol era ruim”, relata ele, mostrando a mão ferida. “Quando passo ruas ou perto de algum campo que tenha pipas, abaixo o corpo e coloco o braço

na frente da minha garganta”, explica o entregador. Há 12 anos trabalhando como mototaxista, Alcides Ribeiro, 50 anos, percorre diariamente uma média de 150 km. “Nessa época, em todo lugar que passo tem um moleque soltando pipa, mas graças a Deus nunca me machuquei. Procuro andar sempre atento.” O motociclista diz que jamais usou a antena de proteção, que custa, em média, entre R$ 14 e R$ 70. “Acho que vou instalar uma na minha moto”.


“Não gosto de usar cerol, mas se não passo, perco a pipa rapidinho. Hoje mesmo já foram duas”, admite um adolescente de 14 anos, morador na Zona Norte. Ele conta que, na maioria das vezes, compra as pipas em um bazar perto de casa e prepara o cerol com cacos de lâmpadas. Admite que já foi vítima do próprio cortante e testemunhou um acidente grave. “Às vezes eu machuco o dedo, mas já vi um motoqueiro que teve um corte na garganta ali perto da Avenida Saul Elkind.”


Acidentes são poucos, mas, em geral, graves


De acordo com o sargento do Corpo de Bombeiros, Valmir Alexandre, por incrível que pareça, o número de acidentes com linhas de cerol é pequeno em Londrina. “Talvez porque não temos um índice que aponte, especificamente, os casos com este tipo de material, já que muitos atendimentos são registrados como ferimentos por objetos cortantes. Mas posso garantir que, pelo menos nas duas últimas semanas, não houve nenhum.”


Alexandre recomenda que o mais importante é a atenção dos motociclistas nos locais usados pelos jovens que soltam pipas, e que busquem se proteger com equipamentos de segurança. “Não podemos esquecer que a maioria das pessoas que usa o cerol é de garotos com pouco juízo. Então, o maior cuidado deve partir do condutor. Por isso, a antena de proteção é extremamente necessária para evitar cortes, especialmente na região do pescoço.” O militar ainda acrescenta que os riscos também existem para o pipeiro: “Já atendemos várias ocorrências em que a vítima era quem estava soltando a pipa com cerol.”


Pais fazem questão de acompanhar criançada


Jací Beraldo Júnior, 36 anos, costuma acompanhar o filho Pedro, 12 anos, até as margens do Lago Norte para ajudá-lo a soltar pipa. Além disso, está sempre observando para que nenhum “espertalhão” acabe com a brincadeira dele. “Já tive um amigo que teve o braço cortado por uma linha com cerol. Por isso, não aconselho ninguém a usar, sei dos perigos e procuro proteger o Pedro.”


Já Adriana Pickina, 34 anos, que também leva os filhos Fernando, 6, e Rafael, 8, para soltar pipa acredita que a brincadeira se tornou uma rivalidade entre os jovens. “O pessoal que usa o cerol não sente mais prazer e sim uma rivalidade de tirar a pipa do outro. Eu vi várias situações acabar em briga,” criticou.

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