2 de julho de 2011

Jovens de Londrina têm que estudar em Cambé

Estudantes da Zona Oeste A caminham de 12km a 18km, na ida e volta de casa ao colégio, para cursar o ensino médio


Texto e fotos: Paulo Monteiro (matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte: jornalfolhanorte.com.br)


Jovens dos bairros João Turquino, Avelino Vieira, Olímpico e Universitário, da Zona Oeste A, enfrentam diariamente uma média de 6 a 9 km para chegar à escola de ensino médio mais próxima: o Colégio Estadual 11 de Outubro, em Cambé. O sol quente, o frio, a chuva e a escuridão são alguns dos problemas enfrentados pelos adolescentes, que demonstram desânimo e cansaço por causa da distância de casa até a sala de aula. “Saio do colégio às 22h40 e, depois de uma hora de caminhada, agradeço a Deus por nada ter me acontecido no trajeto”, diz Ariadine Rodrigues, 16 anos, que optou por estudar à noite porque pretende trabalhar durante o dia.


Ariadine está no 1º ano do ensino médio, mora no conjunto João Turquino e sai de casa às 18h para não chegar atrasada à escola. ”Se demorarmos 10 minutinhos depois das 19h encontramos o portão fechado. Aí não adianta pedir. É só virar as costas e fazer todo o caminho de volta.” A carteirinha de estudante para o transporte de ônibus talvez fosse uma boa alternativa, mas segundo ela, “mesmo custando só a metade, fica difícil para a família pagar”.


Paola Stefani Costa, 17 anos, faz o mesmo percursopela manhã e revela já ter perdido vários colegas de classe devido à distância até o colégio. “Faz seis anos que estudo no 11 de Outubro e muitas pessoas desistiram de estudar por causa da lonjura. Isso poderia ser evitado se a gente tivesse ensino médio mais perto”, acredita a jovem.


O líder comunitário do conjunto João Turquino e presidente da Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF) da Escola Municipal Noêmia Garcia Malanga, no jardim Olímpico, Cícero Guilherme, diz que a carência por um colégio de ensino médio existe há muito tempo. “Essa situação se alastra por 16 anos. Já entregamos vários projetos a todas as autoridades da área de educação, inclusive nas mãos do ex-governador Requião, mas nada foi feito. É uma pena porque muitos jovens, ao invés da sala de aula, acabam indo para o caminho das drogas por causa da distância dos colégios.” Segundo Cícero, espaço é que não falta para a construção de novas salas de aula. “Um deles é um terreno público, com mais de 2 mil m², localizado na Rua Ginástica Olímpica”, mostra.


Na região, apenas a Escola Estadual Dr. Olavo Garcia Ferreira da Silva, no conjunto Avelino Vieira, atende as crianças até o término do ensino fundamental. “O problema é que ela só abre 400 vagas por ano e nossa demanda ultrapassa 800 crianças que deixam a Escola Municipal Noêmia Garcia Malanga, no jardim Olímpico. Só em 2010, por exemplo, tivemos uma evasão escolar de 300 alunos só nesta escola.”


Ao deixarem a escola municipal, se não desistirem, as crianças acabam matriculadas longe de casa. Amanda Venâncio Jordão, 13 anos, caminha cerca de 9 km por dia, do conjunto Universitário até o Colégio Estadual 11 de Outubro, em Cambé. “Minhas pernas doem demais. O pior é quando chego lá, aí fico desanimada só de pensar que tenho de voltar tudo de novo após a aula. Mas não posso parar, pelo menos até o final deste ano.” Fernando Souza Santos, 13 anos, também faz o trajeto e admite que às vezes troca a escola pela rua. “Quando o sol está muito quente ou o dia chuvoso é complicado. Eu prefiro ficar por aí jogando bola ou soltando pipa.”

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