26 de junho de 2011

Cadeirante sofre com obstáculos no centro

Calçadas irregulares, estabelecimentos despreparados e calçadão que ainda precisa de ajustes são algumas das queixas de pedestres, principalmente, das pessoas com deficiência e idosos


Texto: Paulo Monteiro (matériapublicada originalmente pelo jornal Folha Norte: jornalfolhanorte.com.br) Foto: Walkiria Vieira


Mesmo com as reformas do calçadão, entre as Ruas Hugo Cabral, Pernambuco e João Cândido, que melhoraram a acessibilidade com a implantação de rampas e pisos táteis, alguns pontos e estabelecimentos comerciais continuam dificultando o tráfego, principalmente, de deficientes físicos, que são 70 mil em Londrina, e idosos. Além disso, calçadas irregulares oferecem riscos e impedem, inclusive, a passagem de cadeirantes, como Elizete Rodrigues do Prado.


“Se não tiver a ajuda de outra pessoa é quase impossível chegar a meu destino. Por causa das ondulações, do piso íngreme e buracos, por exemplo, tenho que voltar todo o caminho que percorri para não cair e me machucar”, conta ela, mostrando a situação das calçadas da Rua João Cândido. “O que adianta consertar o miolo e deixar o restante deste jeito”, questiona Elizete ao se deparar com buracos e uma parede feita de madeiras que ocupa quase metade da calçada, devido ao andamento de uma obra.


Segundo Elizete, que usa cadeira de rodas desde os cinco anos de idade, por causa de uma encefalite, acessibilidade não se reduz a guias rebaixadas. “Por isso, mesmo com as melhorias, muitos problemas ainda persistem no calçadão”, explica ela, reconhecendo também as melhorias do local. “A situação mudou e está facilitando muito nossas vidas, principalmente em todo o piso do calçadão e nas rampas que fazem ligação com as Ruas Pernambuco e Hugo Cabral. Porém, outras são mal feitas e muito íngremes, além de possuírem buracos próximos que impedem nosso acesso. As rodas da frente da cadeira são pequenas e não sobem devido à diferença entre o nível da rua com o da guia rebaixada”, demonstra Elizete. “Assim, tenho que ir de ré, subindo com a roda traseira, sem ter condições de olhar se há algum obstáculo atrás que, na maioria das vezes, me leva ao chão.”


No mesmo local, a vendedora Tatiane Nunes passa com o carrinho de bebê em que carrega o filho Matheus, de oito meses, que chora a cada solavanco causado pelos buracos. “Ele já sofria antes mesmo de nascer”, critica a mãe. “Na minha gravidez, há mais ou menos um ano, caí bem aqui. Fiquei muito assustada e tive que ser ajudada pelo meu outro filho Gabriel, de nove anos.”


Ao perceberem a presença da equipe da Folha Norte no Calçadão, os idosos aproveitam para fazer suas críticas. Benedita Pereira, 75 anos, por exemplo, não consegue erguer os pés devido a uma artrose nos joelhos. “Acabo machucando a ponta dos dedos do pé por causa das ondulações e da altura entre a rua e o início das guias rebaixadas”, relata. Já o aposentado Renato Botareli, 82, que frequenta o calçadão diariamente à procura de uma namorada, reclama que as dificuldades em se locomover com tranquilidade acabam prejudicando as suas paqueras. “É uma pena. Deixo de olhar para as garotas porque não posso tirar os olhos do chão.”


Ainda há muitos lugares sem rampas de acesso


Alguns estabelecimentos comerciais ainda não possuem rampas de acesso e dificultam a vida das pessoas com deficiência e idosos. O problema tem afastado a cadeirante Elizete Rodrigues do Prado das lojas da região central. “Acabo optando pelos shoppings porque possuem acessibilidade em quase todo o espaço. Mas não é sempre, às vezes tenho que vir a lotérica pagar minhas contas e, além de não haver rampas, os balcões são muito altos.” Segundo a gerente do estabelecimento, a situação será resolvida até o final do mês. “Já solicitamos, inclusive, os operários.”


Por outro lado, outros comerciantes se adaptaram mais rapidamente à realidade das pessoas com dificuldade de locomoção. O administrador de compras do restaurante onde Elizete costuma almoçar, no Centro, diz que ali ninguém passa constrangimentos. “Faz 18 meses que fizemos esta rampa e colocamos adesivos antiderrapantes no piso para evitar que cadeirantes, idosos, gestantes e crianças se machuquem.


“Não podemos tomar conta de tudo”


José Giuliangeli de Castro, o Zezinho, responsável pela Secretaria Especial de Acessibilidade à Pessoa com Deficiência, explica que os problemas das calçadas e a falta de rampas nos estabelecimentos comerciais são de responsabilidade dos proprietários das casas e comércios. “Por isso a prefeitura não pode tomar conta de tudo, nem obrigá-los a executar o serviço”, informa. “A gente procura orientar que façam melhorias para facilitar a vida de toda a população.”


Zezinho observa que o comerciante que ainda não adaptou seu empreendimento às normas de acessibilidade deixa de conquistar muitos clientes, considerando que há cerca de 70 mil pessoas com algum tipo de deficiência em Londrina. “Acredito que estes atrasados não se preocupam com isso.”


Mesmo assim, segundo ele, obras e serviços estão sempre em andamento para adequar o espaço urbano e edifícios públicos às necessidades de inclusão dos londrinenses. Conforme Zezinho, ainda faltam alguns ajustes no centro e cita a rampa que liga a Rua João Cândido ao calçadão e os buracos em sua volta, criticados pelos entrevistados. “Vou pedir que um fiscal vá até o local e avalie essa irregularidade. Aquilo é um ponto de transposição e o asfalto precisa ser adequado ao mesmo nível do início da rampa”, argumenta ele, adiantando que as obras da terceira quadra do calçadão, entre a Rua João Candido e São Paulo, serão concluídas até o final de novembro.

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