27 de setembro de 2010

Região mais antiga de Londrina espera por ajuda



Moradores do Heimtal cobram mais atenção do município, as maiores queixas são para a saúde, o meio ambiente e a infraestrutura

Texto e fotos - PAULO MONTEIRO
(matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte jornalfolhanorte.com.br).
Mais velho que a própria cidade de Londrina, o Heimtal, segundo os moradores, vem sendo deixado de lado pelas autoridades do município nos últimos anos. Atualmente, a região enfrenta problemas de estrutura que enfeiam, oferecem riscos a população e até contaminam nascente de córrego. Por isso, esperam por melhorias da prefeitura para oferecer mais qualidade de vida a seus habitantes de mais idade e aos jovens que desfrutam de poucas opções de lazer.

Importante na construção da cidade, o Heimtal teve a primeira igreja luterana, a primeira escola e o primeiro campo de futebol de Londrina, e para manter esses pontos históricos da região conservados, o presidente da associação de moradores do Heimtal, José Roberto Machado, luta por reformas próximas a esses locais. O primeiro problema apontado por ele é o grande buraco que se formou ao lado do campo de futebol, na rua Domingues Cantagalli, um ponto muito conhecido e frequentado pelos moradores da zona norte. “Uma hora vai cair uma criança, um idoso aqui dentro. Sem dizer que está comprometendo a calçada e o asfalto. Toda a água que entra no bueiro sai aqui do outro lado e aumenta o buraco.”

Ali mesmo, Machado mostra o zelo da comunidade que é responsável pelo campo de futebol do bairro, “o nosso gramado é mais conservado que o do Estádio do Café, mas em volta dele, que é responsabilidade da prefeitura, está tudo abandonado”, critica. O buraco, que inclusive está em frente a uma escola, fica muito próximo da calçada onde os moradores caminham e assistem jogos, a situação assusta a dona de casa Odete Aparecida da Silva, que evita passar pelo local, “aquela calçada está muito perigosa, eu acho que deveriam quebrá-la e refazê-la antes que aconteça algum acidente”.

E o problema não para por aí, próximo a Avenida Ludwig Ernest, que cruza o bairro, fica a praça mais velha de Londrina e, segundo o presidente da associação de moradores do Heimtal, nunca foi reformada completamente. Ele assegura que o primeiro contato com o prefeito, em relação a praça, foi ainda na administração de Luiz Eduardo Cheida (1993 e 1996).

Cansados de esperar, os moradores estão buscando apoio junto aos comerciantes da zona norte. “Eles podem ajudar doando areia, pedra, cimento, bancos, mudas de árvores, já que não aguardaremos mais a boa vontade da prefeitura. Vamos fazer um mutirão com os moradores para melhorar a praça mais velha da cidade”, anuncia Machado, que também sonhava com um centro comunitário. Apenas sonhava, “queríamos muito um centro comunitário, mas as dificuldades em consegui-lo são tantas que ficaremos satisfeitos com a reforma do salão da igreja, que está caindo de tão velho”.

Já foi feito asfalto no bairro e constantes melhorias
O Heimtal já está passando por melhorias e, em breve, terá reformas de alguns dos problemas apontados por Machado. Pelo menos foi o que disse o assessor de gabinete da secretária de obras, Agnaldo Rosa, que assegura já haver no local asfalto e constantes limpezas em vários pontos do bairro. Sobre o buraco ao lado do campo de futebol, ele explica que esse caso não é de hoje. “O problema que tem ao redor do campo de futebol é uma galeria por causa de uma erosão e já, inclusive, planejamos a obra. Aquilo é um problema que acontece há dez, 15 anos e o cidadão quer que resolva do dia para a noite”, conta.

Diante disso, Rosa explica que existe uma programação para o Heimtal e já ocorrem obras ao seu entorno que chegarão até o bairro. Ele também aponta algumas melhorias, “há anos atrás, por exemplo, nem asfalto tinha e foi feito. Realmente existe um problema ali, uma galeria que foi mal projetada no passado, mas já estamos atrás de recursos e já há uma programação para refazê-la”. Sobre a praça mais antiga da cidade o assessor não tem previsão alguma. “Não é apenas a praça do Heimtal, Londrina tem 550 praças e estamos buscando recuperá-las. Infelizmente não passo dar uma previsão porque dependemos de recursos públicos”, completa Agnaldo Rosa.

Segundo moradores, falta atenção a saúde e ao lazer
Uma das moradoras mais antigas do Heimtal, Nilda Cantagalli Strass já vivenciou e conhece muito bem os vários problemas desse bairro, já que reside nele desde a década de 1940. “Tem muitas coisas a serem feitas, uma delas é que o povo daqui precisa de mais lazer, assim, quando quiserem se divertir, não precisarão ir a outros lugares”, ela destaca os jovens, “esses não tem onde se reunir, a praça também está abandonada. Sem dizer que, quando querem praticar um esporte, eles acabam rebentando o alambrado que cerca a única quadra do bairro, mas isso só ocorre devido à falta de opções de lazer por aqui”.

Nilda ainda ressalta a falta de cuidado com a saúde da comunidade, “nós precisamos também de um posto de saúde. Para as pessoas daqui conseguirem uma consulta, por exemplo, elas ficam desde madrugada sem nenhum abrigo, tomam chuva e frio em frente à igreja, esperando o ônibus e muitas vezes não são atendidas”, explica.

O problema não é notado apenas por Nilda, a vizinha Odete Aparecida da Silva também critica a forma que a saúde dos moradores é tratada. “Deveria ser construído no Heimtal um posto de saúde. O doutor que deveria nos atender não trabalha, já faz 45 dias que o ônibus com o médico não aparece aqui. Preciso pegar uma receita, porque tomo remédio controlado, e não consigo”, relata a dona de casa.

Nascente de córrego está com os dias contados
Outra situação que preocupa alguns moradores do Heimtal é o risco que corre a nascente do córrego Mozart. Isso porque, construções de casas estão aumentando muito na região norte e avançando mata adentro. “Em breve será construído casas próximas a essa nascente, por isso, queremos uma proteção ao seu redor para que ela seja preservada”, diz o presidente da associação de moradores do Heimtal, José Roberto Machado.

Ele conta que a água da chuva escorre pelos assoreamentos e carrega os agrotóxicos usados nas plantações vizinhas até a nascente, “estão desmatando em volta dela, então o veneno usado nas lavouras e todo o lixo próximo vem até a nascente. A água que sai daqui é utilizada pelos agricultores das proximidades nas plantações e na alimentação dos animais. Muitos deles já dizem que a qualidade da água não é mais a mesma”.

Machado diz ter comunicado duas vezes a prefeitura sobre a nascente, mas nada foi feito. “Depois que começarem a jogar todo o lixo não adianta mais. Falam muito em meio ambiente, mas fazem muito pouco por ele. Logo estará tudo destruído”, lamenta machado.

O biólogo e coordenador de pesquisas da ONG Meio Ambiente Equilibrado (Mae), Marcelo Arasaki, explica como se forma uma nascente. “A nascente é um ponto de afloramento do lençol freático no terreno, e o lençol freático está acima do ponto onde se brota e acumula a água. Dessa forma, se estiverem usando agrotóxicos ou outro tipo de lixo próximo a esse local, ele será carregado junto à água e, através da gravidade, atingirá também a nascente do local.”

Diante disso, o biólogo acrescenta proporções de riscos ainda maiores à nascente do córrego Mozart, “como a água da nascente é utilizada ainda para a irrigação de alimentos e ingerida por animais, essa contaminação também os atingirá. E futuramente, por causa do assoreamento, o ambiente irá perder sua qualidade e faltará também a água utilizada pelos agricultores”, enfatiza Arasaki.

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