23 de setembro de 2010

Movimento popular discute “Agenda 21”


Para lideranças, salvação do planeta é possível com a união do governo e da sociedade, mas há questionamento dos municípios
NEREU PEREIRA
No seminário estadual "A Agenda 21 no Movimento Popular", realizado no início em 2009 Curitiba (PR), foram abordados temas que cobram maior responsabilidade do governo e da sociedade civil em relação ao meio ambiente. O propósito do encontro foi repensar a relação do homem com a natureza e consigo mesmo, para construir um futuro melhor para todos. O evento teve a participação de representantes do governo estadual, lideranças comunitárias e professores universitários. A Agenda 21 é um documento assinado pelos 179 países que participaram da Eco Rio 92, em 1992, no Rio de Janeiro.

O Governo do Estado, por meio do decreto 4.281/02, determina que todas as disciplinas da grade curricular das escolas tenham vinculo com as questões ambientais. Ainda assim, a maior parte dos municípios está pendente em relação à aplicação do conteúdo em sala de aula. É o que percebe a professora de Geografia Marinalva Cardoso, que atua em uma diretoria da Secretaria Estadual de Educação. Ela participou de um encontro de formação em Faxinal do Céu e relatou dados preocupantes. "98% dos participantes, a grande maioria que exerce cargos que têm vinculo direto com questões ambientais não conheciam a Agenda 21", disse.

Para a socióloga e coordenadora da Agenda 21 no Estado, Shirle Margaret dos Reis Branco, o projeto sairá definitivamente do papel se governo e sociedade atuarem em conjunto. Para ela, a participação do movimento popular nas questões ambientais, é muito importante porque vários outros segmentos já estão se organizando. "Nós vemos as universidades tendo um trabalho muito interessante, os empresários também discutem, em breve lançarão um documento", afirmou. "Temos que reservar para as futuras gerações, as condições de um patrimônio que está se degradando, se destruindo. Temos que dar um basta nisso."

Valdir Donizete de Morais, presidente estadual da Central de Movimentos Populares (CMP), relatou que o encontro foi motivado para sensibilizar os movimentos quanto às diretrizes da "Agenda 21" no Paraná. "Eu, enquanto representante do projeto no Conselho Estadual de Saúde, senti a não participação dos grupos nas questões pertinentes ao meio ambiente, até mesmo pelas dificuldades de locomoção e tempo", comentou. "Mas a gente precisa rearticular o movimento popular. O capitulo 27 da agenda reforça a participação das instituições não-governamentais. Os projetos têm a cara de quem constrói. Se não participarmos dessa construção não terá a nossa cara."

Pacto 21 Universitário ainda não decolou
Apesar de pouco conhecido pela sociedade, existe no Paraná um pacto universitário. Criado em 2 de outubro de 2007, é um documento assinado pelo governador do Estado, Roberto Requião; pela então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; pela coordenação da "Agenda 21" brasileira e representantes do fórum estadual e dirigente de instituições de ensino superior. O documento prevê a elaboração e implementação dos seminários de "Agenda 21" nas universidades, levando o debate para dentro das faculdades.

Entre escolas públicas e particulares, no Parará, existem 172 instituições de ensino superior. Deste total apenas 13 assinaram o pacto. Desde 2007, mais quatro instituições se juntaram ao pacto.

Segundo a professora da Faculdade Evangélica de Curitiba, Bethânia Cristiane Herrmann, o Pacto Universitário da Agenda 21 do Paraná é formado como outro qualquer, com representantes de vários movimentos, seja ele popular ou científico. Para ela, os universitários têm uma força muito grande. "Eles são os grandes profissionais do amanhã e garantem esse ensino que estão buscando na universidade", comentou.

A preocupação da professora é com os profissionais do futuro e com a formação deles mesmos, porque a degradação do planeta cresce a cada instante e são milhares de novos graduandos, que recebem um diploma todos os anos. "Precisamos formar profissionais capacitados e antenados com a questão global que é a Agenda 21."

O capítulo 31 do texto da "Agenda 21" argumenta que a comunidade cientifica, tecnológica e os formuladores de políticas públicas devem aumentar sua interação, a fim de programar estratégias de desenvolvimento sustentável. Com isso, chama atenção a necessidade de programar as ações pesquisadas e as descobertas tendem a ser aprimoradas quando colocadas em práticas.

Nesse aspecto, a coordenadora da "Agenda 21" no Paraná, Shirle Margaret dos Reis, orienta o movimento popular a fazer parceria com os projetos de extensão universitária.

Solução depende de consciência ambiental
A relação entre associações comunitárias e a "Agenda 21" é bastante ampla em vista da maioria dos problemas ambientais, como a ocupação de fundo de vale, o acúmulo de lixo em terrenos baldios, a erradicação de árvores sem necessidades e a reciclagem de lixo. Tudo depende da conscientização das pessoas, para a mudança de postura.

Segundo o capítulo 4.3 da "Agenda 21", a pobreza e a degradação do meio ambiente estão estreitamente relacionadas. Enquanto a pobreza tem como resultado determinados tipos de pressão ambiental. As principais causas da deterioração ininterrupta do meio ambiente mundial são os padrões insustentáveis de consumo e produção. Para criar uma nova visão do meio ambiente nas salas de aula, a professora de Geografia Marinalva Cardoso ressalta que a Secretaria Estadual de Educação desenvolveu uma cartilha para subsidiar os professores nas questões ambientais.

A reciclagem de lixo, por exemplo, é uma fonte importante de renda. Dados da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização de Londrina (CMTU) mostram que cerca de 500 famílias estão organizadas em ONGS e vivem da coleta de lixo reciclável na cidade. Este projeto além de gerar emprego e renda, dá nova vida ao aterro municipal e evita que recursos naturais sejam extraídos do solo para confecção dos mesmos materiais.

O papel é responsável por quase 40% do lixo urbano e grande parte é abandonado nas praças e terrenos baldios. Toneladas são recolhidas por catadores de rua todos os rias e isso evita que 15 a 20 árvores sejam derrubadas. Uma árvore pode pulverizar a atmosfera durante a noite com até 10 litros de água, diminuindo o aquecimento dos artefatos de cimento. "O planeta está sendo destruído, temos que dar um basta nisso", argumentou Shirle Margaret dos Reis Branco, coordenadora da "Agenda 21" no Paraná.
(matéria publicada originalmente pelo jornal Comtexto www.unopar.br/comtexto)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 

©2009 comuniferia | by TNB