11 de junho de 2011

Izolina completa 100 anos com lápis e caderno na mão

Segundo ela, o segredo para tanta disposição é o queijo mineiro, a costelinha de porco e muita fé em Deus


Texto: Paulo Monteiro (matériapublicada originalmente pelo jornal Folha Norte: jornalfolhanorte.com.br)

Foto: Walkiria Vieira


Após criar os filhos e os netos, Izolina Mendes Campos decidiu realizar um antigo sonho: aprender a ler e escrever. Foi aí que em 1998 passou a dividir suas atividades de dona de casa com o curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA), na Escola Municipal Moacyr Camargo Martins, no conjunto Parigot de Souza I (Zona Norte). Sempre especial para os colegas de classe, devido à simpatia e o exemplo de vida, ela teve um destaque ainda maior no último dia 25 de maio, quando completou 100 anos de vida.


E quando alguém lhe pergunta o segredo de tanta disposição em pleno centésimo aniversário, dona Isolina logo responde. “Queijo mineiro, costelinha de porco, feijão e, é claro, muita fé em Deus.” Tanta força de vontade fez com que ela realizasse o antigo sonho de desvendar as letras. “Eu sempre tive muita vontade, mas meu pai nunca deixou. Quando me casei, os meus filhos tomavam todo o meu tempo. Então, aos 88 anos, pude ir à escola pela primeira vez.”

Além do antigo desejo de frequentar uma sala de aula, dona Izolina conta que os afazeres de casa, como cozinhar, lavar, passar e costurar, deixavam os seus dias muito iguais e os problemas decorrentes da idade avançada começaram a atrapalhar. “Eu me sentia muito sozinha e estava esquecendo muitas coisas, então resolvi estudar para ocupar minha cabeça. Lá eu aprendi a escrever o meu nome, fiz vários amigos e também vendo tapetes que eu mesmo faço.”


Além destes motivos, há seis meses a escola ajudou Izolina a superar um momento muito triste em sua vida. “Perdi o meu filho mais velho, com 75 anos, vítima de câncer. Mas graças a Deus o estudo me ajudou a suportar esta dor.”


A centenária nasceu no interior de Minas Gerais e chegou a Londrina na década de 1970. Hoje ela acorda às 5h30, prepara o café para acompanhar o queijo, volta à cama para um cochilo, levanta novamente às 9h para tomar um copão de leite, e às 10h30 começa a fazer o almoço, que quase todos os dias têm seu prato predileto: costelinha de porco e feijão.


Agitada em sala de aula

A professora Selma Geraldino é quem ministra as aulas no curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA), na Escola Municipal Moacyr Camargo Martins, Parigot de Souza I, e falou um pouco sobre a sua ilustre aluna de 100 anos. “Ela é muito agitada, atenciosa, esperta e serve de exemplo para os estudantes preguiçosos. A convivência com dona Izolina é muito agradável”, ressalta Selma, apontando outras peculiaridades da aluna centenária. “Ela gosta muito de dar risada e chamar a minha atenção. A única coisa que a deixa brava é quando ficamos sem atividades por alguns minutos. Outra coisa que me deixa curiosa é que ela não precisa da ajuda de óculos e não tem as mãos trêmulas”, admira a professora.


Previsão é chegar até os 130

Religiosa, dona Izolina vai três vezes por semana à Igreja Congregação Cristã e afirma que só chegou aos 100 anos com a ajuda de Deus. Além disso, diz já estar satisfeita em alcançar essa idade, embora confesse que, se permanecer com saúde, pretende alcançar os 130 anos e se tornar a pessoa mais velha do mundo.


Izolina teve seis filhos, 12 netos e um bisneto com 22 anos de idade. “A mãe não para um minuto e quer ir à escola todos os dias”, comenta o filho Raimundo Xavier Campos, 62 anos. “A única situação que a deixa sem vontade de sair de casa é o frio, aí ela prefere ficar dormindo. O que mais me surpreende é vê-la passar a linha na agulha de costura sem a necessidade de usar óculos”, admira Raimundo.


A filha Enedina Dias Mendes, 68 anos, conta que a mãe é um pouco esquecida, o que não a impede de manter alguns costumes, como produzir tapetes e consertar roupas em sua velha máquina de costura. “A minha mãe também sempre me convida para acompanhá-la nos estudos, mas eu digo que quando chegar aos 88 anos, como ela, eu volto à escola”, brinca Enedina.


Outro que aproveitou para falar da vovó centenária foi o neto Romeu Aparecido Dias, 37 anos. “Ela é inquieta e nunca desperdiça uma oportunidade de passear. Inclusive, já fez várias viagens de ônibus e até de avião. Além disso, está sempre me cobrando uma voltinha de carro”. Romeu acrescenta que a avó só não gosta de resolver assuntos burocráticos. “Mas o resto é ela quem decide. Principalmente na hora de comprar roupas novas.

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