22 de dezembro de 2010

Londrinense foge do preço do álcool


A diferença de cerca de R$ 0,15 no litro do preço do álcool está levando o londrinense a abastecer em Cambé


Texto e foto - PAULO MONTEIRO (matéria publicada originalmente pelo jornal Folha Norte jornalfolhanorte.com.br)


Boa parte dos postos pesquisados aponta em Londrina o preço médio de R$ 1,88. Na cidade vizinha, o valor médio está em R$ 1,75, mas há lugares em que custa R$ 1,73. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês de novembro, divulgado esta semana pelo IBGE, o aumento do etanol foi de 2,97%, frente a outubro.


Considerando as variações dos últimos 12 meses terminados em novembro, o preço do etanol está 2,17% mais caro. A gasolina acompanhou a alta, mas em ritmo menor, ao registrar elevação de 1,55% no acumulado.


A insatisfação com os preços está fazendo com que os motoristas de Londrina abasteçam em Cambé. Em uma rápida visita à cidade vizinha, nota-se que o combustível está realmente mais barato. Em alguns postos, a diferença quase chega a R$ 0,20. Tal “oferta” está chamando a atenção de alguns londrinenses, como o aposentado Paulo Okiama. “Venho de Londrina para abastecer álcool em Cambé. Em cada vez que encho o tanque, eu economizo mais ou menos R$ 10.”


Morador do Jardim do Sol, na Zona Oeste de Londrina, ele relata que o preço do álcool em outros estados é ainda menor. “Coloco o máximo de álcool em Cambé, o que o carro permite, ando por Londrina até esvaziar o tanque. Também costumo viajar para o estado de São Paulo, onde a diferença é ainda maior”, conta Okiama.


Indignado com o preço do álcool em Londrina, Nilton Begini dispara: “É uma pouca vergonha o que esse cartel de postos de combustíveis faz conosco. Deveria ter uma cobrança maior do governo em cima desses postos. O governo também poderia comercializar diretamente com o consumidor, quem sabe assim os outros postos também reduziriam os preços”, exige.


Sete anos morando nos Estados Unidos, o corretor de imóveis Lourival Vicente Neto diz ter levado um susto quando viu o preço dos combustíveis no Brasil. “Por ser um grande produtor de álcool, o Brasil, em qualquer que seja o posto, deveria vender o álcool no mínimo R$ 1 mais barato do que a gasolina. Somos o maior produtor de álcool de cana-de-açúcar do mundo e vendemos o produto tão caro a nós mesmos”, criticou.


MARGEM DE LUCRO É MENOR EM LONDRINA?

“Em comparação ao preço baixo dos postos de Cambé, eu prefiro não comentar, nem quanto à qualidade do produto deles, nem quanto à procedência. O nosso combustível eu garanto que é de ótima qualidade”, diz Luiz Cláudio de Oliveira, gerente de um posto na região central de Londrina, onde o álcool está R$ 1,86.


Oliveira justifica o valor em Londrina quando comparado com Cambé. “Na verdade, os postos só podem ganhar até R$ 0,30 por litro de álcool, e a gente nem chega a esse valor. Buscamos repassar o mínimo possível ao nosso cliente, compramos o álcool da distribuidora a R$ 1,60 por litro e ganhamos apenas R$ 0,26 em cima desse valor”, assegura.


Em Cambé, um gerente que preferiu não se identificar confessa que preferiria vender álcool a um preço maior, mas isso o levaria à falência. “O problema é que os nossos concorrentes vendem o produto muito barato, e para não perdermos mais clientes e falirmos, também reduzimos o preço e levamos prejuízo. Infelizmente, já ocorreram até demissões por causa disso, mas não há outra forma de superar o problema”, admite.


SINDICOMBUSTÍVES TENTA EXPLICAR DIFERENÇA

O vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lojas de Conveniência do Estado do Paraná (Sindicombustíveis) na região de Londrina, Durval Garcia Júnior, aponta alguns fatores para a diferença nos preços em cidades tão próximas. Segundo ele, o IPTU, o fornecimento de energia elétrica e de água em Londrina são muito mais caros do que em Cambé.


Durval Garcia Júnior confronta os valores e analisa a realidade dos postos de combustíveis entre as duas cidades. “Por exemplo, um posto à venda em Cambé, com capacidade para 150 mil litros de combustível, custará R$ 150 mil; aqui em Londrina, não será vendido por menos de R$ 400 mil. O aluguel de um posto na área central de Londrina, atualmente, é de R$ 15 mil; em Cambé, não ultrapassa R$ 5 mil”, justifica ele, acrescentando que, se o preço de Londrina fosse o mesmo de Cambé, “nosso lucro, por litro, seria de apenas R$ 0,28 e o deles de 40 centavos”.


Além disso, o vice-presidente destaca o baixo preço como um atrativo dos postos da cidade vizinha para segurar os clientes em Cambé. “Muitas pessoas que moram em Cambé trabalham em Londrina. Se não fosse essa diferença de preço, o morador de lá também iria abastecer o seu automóvel aqui”, comenta.


Esses, entre outros fatores, segundo ele, levaram empresários de Londrina a desistirem do negócio. Nos últimos anos, 60% dos postos de combustíveis de Londrina mudaram de proprietários.

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